UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sol

Conta-se, que há muito o Sol andava tristonho pela Terra.
Seus raios, já não eram tão "fortes" como antes e por mais
que o fizesse, sempre era encoberto por alguma nuvem escura
que percorria o céu num forte vendaval.

Os pássaros, as flores, os animais, todos se questionavam
sobre o distanciamento do sol.

Numa manhã; que seria bem mais bonita, se o Sol estivesse com
seu esplendor total; uma ave de voo inigualável chamada
Condor; arriscou-se e quis tentar conversar com o astro rei.
O sol percebendo a dificuldade do Condor para se aproximar,
tranquilizou-o dizendo:

- Linda ave; de vôo quase perfeito, porque queres chegar a
mim, se estou por toda parte deste planeta?

O Condor ouvindo a pergunta do Sol lhe respondeu, já exausto
pelo voo:

- Gostaria muito de saber o que lhe deixa tristonho. O
planeta está quase sem tua luz: os pássaros já não sabem mais
para onde ir; as flores, principalmente o girassol; já não
sabe mais se fica acordado ou se dorme; os animais já não
sabem mais se ficam em suas tocas ou saem para caçar; as
lavouras estão se perdendo... Tudo está tão confuso, que
resolvi arriscar este voo e lhe perguntar qual seria o
problema.

O Sol percebendo a preocupação do Condor disse-lhe: - Não
sabia que estava causando tantos transtornos! Confesso que me
absorvi em meus pensamentos, que não me dei conta do que
estava fazendo. Posso tentar solucionar isto tudo; prometo
tentar...

O Condor percebendo a "dúvida" que ficou nas palavras do Sol,
ainda insistiu na mesma pergunta: - Mas o que está ocorrendo,
que lhe tirou a atenção do resto do mundo?

Poderia lhe ajudar, se você me dissesse o motivo.

O Sol ainda encoberto, disse-lhe: - Acho difícil alguém me
ajudar... Muito difícil mesmo... E já que está disposto a
conversar, diga-me: você já amou alguém Condor?

O Condor apoiou-se nas encostas de uma montanha; abaixou sua
cabeça sem olhar para o abismo e respondeu:

- Sim, já amei... Amei uma linda ave, que não era um
Condor... Amei e sonhei... Muito... E porque você me pergunta
isto? Você que é o Sol! Que possui bem mais dotes do que eu;
que possui o poder em suas mãos? Não é possível que não
consegue conquistar o amor de sua amada? Qualquer dama, se
renderia à sua luminosidade; ao seu esplendor; ao seu
magnetismo natural; ao seu calor...

E antes mesmo que o Condor continuasse, o Sol o interrompeu
dizendo: - Qualquer uma, menos ela...

O Condor já intrigado de tanta curiosidade, então perguntou:
- Quem Sol? Quem é ela? Que dama lhe ofusca os olhos?

O Sol, então olhou para o infinito e disse-lhe com o
semblante bem tristonho: - A Lua... A Lua, amigo!

Neste instante o Condor em respeito ao Sol, segurou seu
sorriso e disse-lhe: - A Lua? Como você apaixonou-se por ela?
Como isso aconteceu?

O Sol percebendo o espanto do Condor, lhe respondeu: -
Aconteceu, que nos encontramos por algumas vezes... Em
frações de segundos em alguns lugares, mas nos encontramos!
Por que você está surpreso com isso?

O Condor percebendo que o Sol já estava se exaltando, tentou
explicar: - Por favor amigo, não quero que fique nervoso
comigo. Apenas estranhei a Lua ser sua amada...

- Como estranhou? Nunca lhe perguntei a quem você amou e se
tivesse dado certo, você não me responderia da maneira como
me respondeu!

O Condor então disse: - Sim, você está certo... Desculpe-me!
O que estranhei, foi que você viu muito pouco esta bela
criatura, para poder se apaixonar por ela.

Neste instante o Sol então respondeu: - Sim muito pouco...
Muito pouco mesmo... Mas nestas poucas vezes, enxerguei
dentro dos olhos dela. Vi toda a beleza que ela trazia dentro
de si... Enxerguei o seu coração... Senti-o bem próximo a
mim... Acreditei naquele olhar... Vi cumplicidade... Vi
entrega... Vi amor...

O Condor, observou que o Sol lhe falava, mas seus olhos
ficavam fixos no infinito, procurando talvez os olhos da Lua.
Então disse-lhe: - Ora, ora amigo, tenho que pensar em uma
maneira de lhe ajudar. E lhe ajudando, estarei sendo
ajudado... não só eu, todo o planeta!

O sol com mais emoção então perguntou: - Como você poderá me
ajudar? - Devagar amigo! Primeiro preciso me encontrar com
alguns amigos de hábitos noturnos e depois lhe darei a
resposta.

E o Condor saiu voando mais que rapidamente e em menos de 5
horas; quase à noitinha, apareceu junto à encosta de uma
montanha, onde o Sol já se reclinara para adormecer e
disse-lhe:

- Veja amigo, o que trouxe junto a mim! São vários amigos de
hábitos noturnos e todos eles estão dispostos a lhe ajudar,
se você continuar durante o dia no céu, mais forte do que
nunca! É esta a única condição imposta por eles, para lhe
ajudar!

O sol intrigado com tantos animais ao seu redor, então os
perguntou: - Então digam, o que vocês fariam?

Neste instante uma coruja, com a fisionomia bem experiente e
sábia, disse-lhe: - Levaríamos à Lua, seus recados; suas
notícias... Tudo que precisar!

O Sol neste momento bramiu com grande satisfação ao dito pela
coruja. E depois sorriu aliviado dizendo: - Então digam a ela
uma "coisinha" muito importante; que nunca tive tempo para
dizer; pois quando nos víamos, ficava tão preocupado pelo
pouco tempo de encontro; que esquecia de lhe dizer... Digam a
ela, que a amo! Que a amo, mais do que tudo! Que estarei
sempre esperando para nos encontrarmos! Que serei guardião do
dia e ela será a guardiã da noite... E trabalhando juntos, os
dias e noites se passarão sem erros e nos veremos novamente!
E quando nos encontrarmos novamente, a amarei mais e mais...
Nem que demore meio século para este encontro, mas a amarei!

Os animais neste instante se emocionaram com a clareza e
transparência do Sol. Agora sim, ele foi sincero em seu
sentimento. Ele não o escondeu entre as nuvens escuras e não
teve medo de falar o que sentia.

E a noite chegou.

A primeira a levar o recado foi a coruja. Do alto de uma
árvore, disse à Lua as palavras do Sol.
Naquela noite, uma chuva muito branda, mas "molhada", molhou
a Terra.

Cada gota de água da chuva, representava emoções e
sensibilidade da Lua. Cada gota de chuva representava
Lágrimas de amor da Lua! Lágrimas de esperanças... Lágrimas
de satisfação... Lágrimas de confiança... Agora a Lua sabia
que não estava só... E um dia, se encontraria novamente com o
Sol... Nem que demorasse meio século... Mas o encontraria...
Na imensidão do tempo...

Ao "Sol " e a "Lua " que existem dentro de todo ser humano;
que as nuvens e turbulências, apenas dêem um sentido maior a
existência desses dois seres!

(Autor Desconhecido)

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