UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 29 de agosto de 2010

Assombros

Às vezes,
pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo
do meu peito.

Fora,
não se dão conta os desatentos.

Entre a aorta
e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.

Entre as vértebras
e as costelas
há vários esmagamentos.

Os mais íntimos
já me viram
remexendo escombros.

Em mim
há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.

(Autor: Affonso Romano de Sant'Anna)

Nenhum comentário: