UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 29 de agosto de 2010

Eu sou...

Eu sou um poema inacabado
Que ninguém nunca leu.

Eu sou
A paisagem daquele quadro
Que o pintor não terminou.

Eu sou
uma tarde quente de verão
Em que não choveu.

Eu sou
Aquele rio que secou
Antes de alcançar o mar.

Eu sou
Aquele sonho bonito
Que ninguém realizou.

Eu sou
A escultura quase perfeita
Que caiu da mão e quebrou.

Eu sou
Aquela paixão gostosa
Que por medo, alguém sufocou.

Eu sou
O amor que alguém esperava
Mas nunca chegou.

Eu sou
Metade do que eu desejava ser...
O dobro do que eu nunca esperei!!!!

(Autora: Clarice Lispector)

Nenhum comentário: