UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 21 de agosto de 2010

O Deus dos Homens

Era, antes do tempo que o tempo não conta
E em todos segundos segundo "Essa" luz,
Infinito presente do que foi e será,
No que havia e há...
Jesus!

Livre imensidão inversa do "eu",
A voz do silencio no silencio se deu,
Imenso Dom em dom brilhou...
Criou-Se universo que de Si ar respira
E do nada, e em tudo, amou o "não ser" que estou;
Soprou-me o barro e em mim o Seu Ser moldou
Amou-me ainda o "mim" incerto; pedra caiada,
Açoites em rosas, ações em prosas, lassa mentira.
E amou-me tanto, ao sol, no pranto, no fio da espada.
De Si fez-se nada, menor do céu, maior dos réus
Poeira do chão, menos que um grão, verme danado,
Fez-se pecado, julgado insano, farrapo humano...
Por mim coroado, toda força sangrou, crucificado
Pela lei do Sinai, no cume da dor, abandonado.

(Autor: Manito O. Nato)

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