UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Teimosia



Se tenho um fio de esperança,
um sonho teço,
para abrigar o sofrimento da saudade;
tantas laçadas - já nem sei fim ou começo,
qual se o agora fosse a própria eternidade.

Em cada malha de ilusão sutil, me aqueço,
talvez se acalme esse tormento
que me invade;
ponto por ponto, pago sempre um alto preço,
meu fado é rude, sem mercê, sem caridade.

Hora após hora, passa o tempo, vai-se o dia,
a noite agita mil lembranças, me agonia...
Verso e reverso a tricotar, não esmoreço.

Então, de um fio de esperança... Um sonho teço!
No aqui, no agora, ou bem além do que se vê,
em cada ponto estou mais perto de você.

(Autora: Patricia Neme)

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