UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Noite


Da tarde os vivos e áureos esplendores
No véu crepuscular se vão turvando.
Luz de um flébil clarão fugace e brando
Derrama o Sol nos últimos palores.

Os alados e prófugos cantores
Buscam seu ninho, lépidos, em bando...
O velho mar, soturno, está rezando
Uma oração feita de mágoa e dores.

É noite. A treva estende-se na terra...
Cessa da vida a atrabiliária guerra...
E a via-láctea pelo espaço mudo,

Lembra a espuma da fervida cascata,
Lembra uma faixa alvíssima de prata
Sobre um pedaço negro de veludo.

(Autor: Arthur de Salles)

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