UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Ilusões



Velas fugindo pelo mar em fora...
Velas... pontos - depois... depois vazia
a curva azul do mar onde, sonora,
canta do vento a triste salmodia...

Partem pandas e brancas... Vem a aurora
e vem a noite após, muda e sombria...
E, se em porto distante a frota ancora,
é p’ra partir de novo em outro dia...


Assim as Ilusões. Chegam, garbosas,
palpitam sonhos, desabrocham rosas
na esteira azul das peregrinas frotas...

Chegam... Ancoram ‘alma um só momento;
logo, as velas abrindo, amplas ao vento,
fogem p’ra longe solidões remotas

(Autor: Medeiros e Albuquerque)

Nenhum comentário: