UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Esquecer



Na taça de cristal dos meus sentidos,
sorvo o maduro vinho da saudade,
enquanto um rigoroso inverno invade
as lacunas de amores não vividos.

No epicentro das dores que colhi,
longe do beijo ardente que eletriza,
distante da lascívia que eterniza,
a solidão confirma o que perdi.

O tempo do sofrer são horas cruas,
apresenta-se duro, carrascal,
diante da vida azul que não provei.

O acervo de ilusões atiro às ruas
- olvido sem limite a tanto mal!
– desejando esquecer o que sonhei!

(Autor: Antônio Kleber)

Nenhum comentário: