UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Vida



Só o Passado é real; o futuro, fantasma
Com que a mente dá forma à coisa inexistente.
E o minuto, que voa, e chamamos Presente
Já ficou para trás tão depressa entusiasma.

Toda a vaga ilusão que a humana ambição plasma
E supõe realizar hoje mesmo, fermente,
Lembra a sorte cruel da gota intercadente
Que mal tomba e já abriga o infusório e o miasma.

Toda vida é um Passado. O Presente subsiste
Como ideal concepção de um desejo, que insiste
Nesta glória de abrir ao sonho novas portas.

Mas a vida, em si mesma, a existência, afinal,
No Presente, fugaz, falaciosa, irreal,
Essa existe, direi, mas são as coisas mortas.

(Autor: Henrique Lagden)

Nenhum comentário: