UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Força dos que não têm Força


Recordo, olhando a vida
 e passando em revisão
pequenos e grandes momentos
 de vidas, de gente,
que tira forças de onde elas não estão.
Fico impressionado com
 o sorriso, as palavras,
os gestos, a atenção,
a entrega, a dedicação,
a disponibilidade, a prontidão
de tantas pessoas
que se encontram já sem
 forças para nada.
Observar aqueles que podem
contar com as forças
da vida, não causa impressão,
mas poder contemplar
a força daqueles que não têm
forças é uma dádiva
que obriga a repensar a vida.
Os gestos de amor dos abandonados,
 a participação dos esquecidos,
 a franqueza dos enganados,
o abraço dos rejeitados,
o sorriso dos maltratados
é força dos que não têm força.
O trabalho dos cansados,
 a entrega dos sobrecarregados,
a gentileza dos idosos é força
 dos que não têm forças.
A bondade dos esmagados,
 o perdão dos injustiçados,
as luta dos vencidos,
a esperança dos desenganados é
a força dos que não têm forças.
É impressionante como há gente
que nunca se dá por vencida.
Homens e mulheres que levantam
a cabeça e descobrem
horizonte, arrastam os pés
 e fazem caminho,
apertam as mãos contra
 o peito e encontram coração,
mordem os lábios
e despertam um sorriso, forçam a
porta e oferecem um teto,
esmagam migalhas e matam a fome,
enxugam uma lágrima e refrescam a vida.
Há homens e mulheres que
tiram força de onde ela não existe.
Às vezes tenho vontade de perguntar,
onde vão buscar força
os que não têm forças?

(Autor: Manecas)

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