UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Renascer das Cinzas




É possuir um pouco de sanidade e de louco;
ao despir a alma sem pudor quando fala de amor.

É divagar, devagar... Lentamente...
Em busca da rima para compor seus versos,
é revelar tudo que sente na alma latente,
ao emergir os sonhos submersos.

É ter coragem de dizer em doces rimas,
muitas vezes até mesmo em tom jocoso,
o que os outros nem sempre admitem
temendo o ridículo, com vergonha de seus sonhos.

Ser poeta e desvendar a alma humana
saber ler nas entrelinhas o que a boca não diz.
É chorar sua dor brincando com as rimas,
fazer com que acreditem que ele é feliz.

É descobrir a cada dia o encanto em nova rima
nas coisas mais simples, no cotidiano, ou nas mazelas.
E mesmo quando a dor está próxima e dele avizinha,
ele a ignora, faz um verso e acaba rindo dela!

É buscar talvez, como única recompensa,
ver sua obra respeitada por quem as ler,
pois para o poeta, creio, que a maior ofensa,
é a omissão de seu nome quando alguém as transcrever.

Ser poeta é muito mais, é ir além!
É revelar seu amor ainda que profano,
é renascer das cinzas a cada desengano
para alimentar a chama que em seu peito clama.

(Autora: Antonieta Elias Manzieri)

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