UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A castanheira



Se abatem sobre a terra os temporais
Em dias de fúria, fúria de jornada inteira
Caem as frágeis, as árvores banais...
Incólume, das mais fortes resta a castanheira.

Esta filha da terra de galhos colossais

De um verde nobre, orgulhosa e altaneira
Resiste sem pavor a destroçantes vendavais
Tranquila ao que pasma a mata inteira.

E, no entanto,é tão dócil esta gigante

Que açoitada, apenas frutos no chão despeja
Afetando meu coração poeta,poeta amante...

Que assim se comporte a mulher que se deseja

Imitando a árvore seja, forte e vibrante...
Mas delicada e doce como a castanheira seja.

(Autor: Guilherme Pamplona Puget)

Nenhum comentário: