UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Balé Espacial


Seremos eternos?
Sucessões
esféricas
no tempo.

Dentro de mim
não há
nada.
Dentro de mim,
o mundo.

Simples,
breve,
leve,
caminho sobre esferas
- degraus? -que me conduzem
ao extrato universal.

A leveza sutil
do planeta em rotação
eleva-se num balé essencial:
a dança fantástica de astros
improváveis.

Deus meu!
Quero navegar no rastro
de um astrolábio na segurança de seu passo,
dançarino encantado
do eterno suceder,
com a respiração mais elevada.

Sou de sempre,
miríades esféricas do instante.

Seremos eternos?
(Autor: Onévio Zabot)

Nenhum comentário: