UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 25 de junho de 2013

Poema àquela certeza


É esta certeza que o tempo intercepta
– grave rumor do salgueiro ao vento
vento rumor próprio do tempo.

É esta certeza que o rio desenha
na água o vidro... no fundo a sombra
sombra da sombra que se faz na água.

É esta certeza que o vento impele
na água a folha... no fio do tempo
tempo do tempo que o rio engendra.

É esta certeza que o rumor acende
e deixa no ar redemoinhos
círculos de vento que o vento leva.

(Autor: Vieira Calado)

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