UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Poesia, Versículos


I
Tão real em sua idealidade,
não é de facto, nem de prosa.

II

Vem de longes, sem anúncio ou alarde -
de quando era a cor da pele a palavra.

III

Abro-lhe a janela, que se hospede
mas que arrume novamente o quarto.

IV

Bate-me com os pés seu ritmo,
faz-me dançar qual índio, imberbe.

V

Vive a me lembrar seus cânones,
intemporal, nem se importa
com que os ventos mudem
e que com eles girem as palavras.

VI

Fica o tempo que determina,
que lhe agrada.

VII

Quando parte, sem acordo de volta,
deixa-me síncopes, lapsos
que entrecortam madrugadas.


(Autor: Fernando Campanella)

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