UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 18 de agosto de 2012

Anônimo Amigo



O melhor amigo de todos os poetas
É o leitor. Sim, o leitor...
Este anônimo amigo
Que transcende o tempo,
Extrapola as eras
E mergulha de corpo e alma
Num verdadeiro banho de letras.
Leitor, inseparável companheiro de todos os poetas
O que fica em silêncio meditando nas palavras
Pensando nos sentidos,
Viajando em cada estrofe, verso, figura
Sintonizando-se com a poesia.
A musa muitas vezes desdenha o poema
- ou o poeta –
Os críticos? Ah, esses...
Eles procuram nós em pingo d’água
E simplesmente saem apontando defeitos formais
Erros fatais...
Como se arte, literatura e poesia
Precisasse ter a precisão exata da ciência.
Estudantes? Ah, esses lêem por obrigação.
As vezes decoram versos para declamar
Nas festinhas da escola.
E, na maioria das vezes, é tudo.
Não, o melhor amigo do poeta
É o leitor.
Leitor comum e anônimo,
Aquele que sente na pele e na alma
Cada sentido e cada som,
Cada sentimento,
Todos os cantos
E todos os lamentos
E que ao ler os versos com toda sua alma presente
Se faz parceiro do poeta,
Um grande amigo,
Quase uma alma gêmea. 

(Autora: Fatima Dannemann)

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