UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Opiniões



Quantas opiniões nos cerceiam a cada instante...
O ir e vir constante.
O que ontem abraçava 

com ardor...
Hoje não sei daquele calor.

A primeira idéia...
Formata e incendeia...
Mas passado o momento...
Do acontecimento.

Já não resplandece...
Empalidece...
O que agora brilha...
E que não é mais minha trilha.

Quantas vezes...
Revezes atrozes...
Calam me a voz...
E de mim fazem algoz.

E de repente...
Estou aqui eloqüente...
Fomentando outra opinião...
Que se insinua no coração.

Uma mesma caminhada...
Traz brilho a estrada...
De outra feita...
Agora não enfeita.

O sonho que sempre tive...
Não me contive...
Agora invalidou...
Nem na memória ficou.

Plantou...
Mas não vingou...
Pois a semente não eclodiu...
E enfim não brotou.

As diretrizes que sempre tive...
De repente ficaram sem raízes...
Flutuo... Fico livre...
Busco algo que me motive.

E assim cada um pode dizer de si...
Que a contradição margeia...
Fortalece idéias... Que ora ateiam
Mas são plantadas na areia.

Paixões que não sedimentam...
Não alimentam...
O que num primeiro momento se buscou...
E assim portanto não se edificam.

Identificam a razão primeira...
Soberana... Plena...,
Encena apenas... A duras penas...
Sensações amenas.
Mas que agora já saíram de cena.

(Autora: Carmen Cecília)

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