UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Na Praia



Hora crepuscular. Soluça a voz dolente
das ondas, no sereno e doce marulhar:
Um fluído de tristeza infiltra-se no ambiente,
sombrio véu confunde a transparência do ar.

Longe do mundo vão e ao mundo, indiferente,
fito os olhos no abismo insondável do mar
e, enquanto o vento agita a espuma alvinitente,
minh’alma ascende à esfera estranha e singular ...

Desce a noite. Através das sombras, surge a lua.
Lá longe, no alto mar, um barquinho flutua
e o barqueiro, saudoso, entoa uma canção.

(Autora: Emiliana Delminda)

Nenhum comentário: