UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Simples


Reparo os meus instantes, 
e penso do que é feita a existência.
Vejo o enlaçado do vento 
que abraça aquelas árvores,
ele as beija como se fosse 
o tão esperado amante.
Elas o recebem, pois, 
sabem que jamais ele se ausenta.
E aos pés daquele ribeiro, 
nascem pequenas flores,
que decoram em suas miudezas a paisagem nobre.
Libélulas beliscam o espelho d’água, brincando faceiras.
Desnuda-se o céu, e, cada nuvem encontra seu caminho.
As cores do crepúsculo anunciam a alvorada,
A vida ressurge por entre as falácias dos pássaros,
que em revoada, desenham a liberdade nos céus.
Nesse instante, respiro o renovado do ar que me cerca.
Sou não só aquilo que sei, mas, tudo o que agora contemplo.
Atento meus olhos a perfeição dessas cenas,
e nada mais reconheço, senão a vida.
Deixo-a invadir-me sem licença, sem pedidos,
sem bloqueios, culpas ou arrependimentos.
Sem complicações maiores.
Quero dela o simples.
Quero reter-me nas flores.
Quero desenhar nas nuvens.
Quero dançar com o vento.
Quero brincar com as libélulas.
Quero ser pássaro do céu.

(Autora: Jacqueline)

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