UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 25 de agosto de 2012

Silêncio



É no silêncio que ouvimos 
nossa voz interior chamando,
aguçando a dor, a solidão,

 o horizonte nunca visto
ou a montanha que mostra no nada, 

um deserto de ansiedades.

O silêncio tem som de alma 

refletida no espelho.
É nele que também vemos o que nunca vimos
ou ouvimos ou sentimos ou nos faz

a pergunta vinda da consciência:
o que fomos, por que estamos, 

por que somos, o que seremos?

O silêncio traz a paz ou a angústia, 

o silêncio revela realmente,
lucidamente, nossa intimidade com o bem e o mal.
O silêncio faz um grande tribunal em nós mesmos,
mostra atitudes, pensamentos, palavras,
analisa, julga e dá a sentença.

Às vezes, tenho medo do silêncio por ser meu Juiz.
E, assim como nos faz refletir, nos faz temer, 

meditar, sentir, calar,
 e calando, faz conversar com o inferno 

e o céu numa competitiva balança.

O Silêncio que há, sem dúvida, 

 é algo assim abrindo uma Porta
em nossos corações de labirintos, buscando a saída.
E só o Tempo da Vida, silenciosamente,
com Amor, tem a chave guardada no próprio Espírito.

(Autor: Fábio Thomaz)

Nenhum comentário: