UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A Concha


Escondi-me numa concha, no fundo do mar,
mas esqueci-me em qual.

Cotidianamente desço às profundezas
e côo o mar por entre os dedos
a ver se dou por mim.

Às vezes penso
que fui comido por um peixe gigante
e eu procuro por toda a parte
para o ajudar a engolir-me por completo.

O fundo do mar me atrai e espanta,
com os seus milhões de conchas
semelhantes.

ah, eu estou numa delas
mas não sei em qual.

Quantas vezes fui diretamente a uma conha
dizendo : "Este sou eu".
Quando abria a concha
Estava vazia.

(Autor: Marin Sorescu - Tradução de Luciano Maia)

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