UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A Tarde


A tarde dá a largada.
No vai, não vai me convida
com uma carona certa
a fazer parte da sala,
abastecer a coragem
para aceitar de bom grado
a companhia das sombras.

A mesma tarde registra
as vibrações do silêncio
com um tom de telefone,
de vozes de vendedores,
e de grunhidos dos cães,
unidos numa canção.

Já no fim a tarde leva
a sua melancolia
e a palmeira que balança
com jeito de bandeirada
avisa tão sutilmente
que a noite já chegou.

(Autora: Rosa Clement)

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