UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Palavras Tristes


A tristeza parece dominar 
as pontas dos dedos,
movimentando-as em 

caracteres que desconheço.
As palavras tristes 
viajam desde a alma,
numa libertação de um nó sem respirar.
A tristeza inspira os dedos 

numa movimentação
contínua de êxtase.
As palavras tristes caem 

em páginas brancas,
preenchendo um vazio 

no qual deveria correr sangue.
No qual deveria pulsar sangue.
Em vez de sangue vivo, 

correm palavras tristes.
É a inspiração de uma 

tristeza melancólica
que movimenta os dedos.
Porque esse estado de alma
nos faz viajar interiormente
e reflectir sobre a essência.
A alegria, faz-nos viver.
A tristeza, faz-nos escrever.
Olho as pontas dos dedos.
Estarão também elas tristes?
Pergunto à tristeza:
porque trazes tanta inspiração?

(Autor: Pedro Pan Pina)

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