UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Palhaço e Eu



O Palhaço, Amigo, 
já vive em mim... 
Tantas vezes tive que nele me
inspirar, que nossas almas
se uniram em um único sorriso.
O sorriso da vida.
E restamos um só.
Alegres, tristes, solitários...
Mesmo os mais inexpressivos risos,
encontram espaços
na nossa louca existência.
O que é a vida, 

senão um grande desejo
de sorrir,
de chorar,
de gritar,
de amar...
Com suas cores pinto
minha máscara viva.
Disfarço sentimentos...
Busco limitar o sofrer,
 ampliar o riso,
desenhar uma lágrima vazia.
Entender o amor...
Nos intervalos da vida, reflito...
Reforço traços enfraquecidos...
Meus olhos, serenos, buscam cores
que disfarcem o tédio.
Enquanto a madrugada observa
 indiferente a chuva que cai, forte. 
O silêncio, molhado, se
recolhe em mim...

Busco no eu-palhaço
o sorriso do homem que,
dividido,
a vida a representar passou...
 

(Autor: Domingos Alicata)

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