UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

As aparências não enganam a Deus


De cada um de nós,
Deus possui duas imagens:
a imagem do que somos,
e a imagem do que poderíamos ser,
segundo o projeto divino.Nós valemos não pelo que dizemos
ou prometemos, mas por aquilo
que somos como pessoa, como cidadão.
Temos tendências místicas, religiosas,
e sofremos também o apelo da matéria.O bem e o mal disputam espaço entre nós.
É a dialética existencial que nos marca,
divide e desafia dia e noite.
Mesmo dividido, retalhado,
deixe seu coração cantar,
saudando cada novo amanhecer com fé,
esperança e caridade.O caminho ao encontro da vida,
levando entusiasmo na alma
e um sorriso na fronte.
Você pode e deve ser
uma criatura harmoniosa,
pacificada e musical.Há, no comportamento humano,
um jogo de cena:
com freqüência ele volta sua atenção
para o cultivo das aparências.Essas impressionam bem mais que
a dura realidade.
Por vezes, as aparências respondem
justamente ao desejo de ocultar
a miséria pessoal.Com o passar do tempo,
o ser humano revela-se incapaz
de conviver com sua própria realidade
e faz das aparências sua forma de ser.
É a máscara.Com alguma esperteza,
ele imagina que as outras pessoas
seriam levadas a acreditá-lo transparente
e veraz.O pior momento desse truque
é quando ele supõe ingenuamente que,
podendo enganar a si mesmo
e aos outros,
possa fazer o mesmo com Deus.De forma estupenda,
Jesus delineou esta ilusão na figura
do fariseu que não hesita em contar vantagens
em sua oração, já o publicano,
consciente de sua degradação moral,
faz apelo à Misericórdia Divina;
"tem compaixão do pecador que eu sou!" (Lc 18,13).Se Deus, na criação imprimiu no ser humano
sua imagem.
Não há caminho de vida sem rigorosa
fidelidade a ela.
Quem investe nas aparências será
personagem, jamais pessoa.Verdadeiramente é admirável,
ó verbo de Deus, no Espírito Santo,
fazendo com que Ele se infunda de tal modo
na alma, que ela se una a Deus,
e em nada se alegre fora de Deus.

(Autora: Santa Maria Madalena de Pazzi)

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