UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

LIVRO: Los Angeles


Category: Books
Genre: Literature & Fiction
Author: Marian Keyes

Sinopse: O sexto romance de Marian Keyes é uma história absolutamente cativante sobre um casamento que deu errado e uma mulher sensível que, subitamente, resolve fazer o que bem entende da vida.
Diferente do resto de sua família, Maggie Walsh sempre foi a irmã mais certinha de todas, em tudo, a santa que andava sempre na linha. Pelo menos até o dia que largou o marido e foi para Hollywood! Em L.A., roupas sofisticadas, pessoas magérrimas e emperequitadas e festas bem freqüentadas são presenças constante, e acreditem: até as palmeiras ao longo das calçadas são magras. Ao se hospedar com a sua melhor amiga, Emily, uma roterista raladora, Maggie começa a fazer coisas que jamais fizera antes, tipo se enturmar com estrelas de Hollywood e até mesmo usar meias-calças na cabeça para firmar o penteado e fazer apresentações de roteiros para produtores de cinema na maior cara-de-pau - e mais, muito mais! Assim, conhece o misterioso Troy, um homem tão antiaderente, que é conhecido como Teflon Humano.
Acompanhe Maggie em sua jornada (de descobertas) com as estrelas dos subúrbios sofisticados de L.A. ao bonzeado deslubrante que só se consegue nas praias da California, engolindo mágoas e, de quebra, muitos martínis, enquanto procura o que realmente quer da vida e qual o verdadeiro motivo de ter pulado fora do casamento."

********

Los Angeles foi uma compra de impulso, para completar o valor do importantíssimo Frete Grátis! Bendito complemento! Diverti-me da primeira à última página.

Apesar do resumo festivo, o livro dedica-se a explorar a personagem e seus conflitos internos.

À medida que somos apresentados a nova e solteira Maggie Walsh, também conhecemos a sua vida anterior, casada, como Maggie Garvan. E as duas realmente acreditam que são duas mulheres completamente diferentes...

No ínicio do livro, casada há nove anos com Garv, seu primeiro namorado da infância (mas não único), Maggie acredita que sua vida está estagnada. A rotina, permeada de trágicos acontecimentos, impôs-se e o casamento, que já não era muito animado, tornou-se um vazio de emoções. Embrenhada em seus pensamentos e sem perspectivas de provocar mudanças, Maggie não tem tempo de reagir, pois o destino acaba decidindo pelos dois. Um acontecimento revela que o casamento realmente está acabado. E para complicar ainda mais, ela é demitida do emprego. De volta à casa dos pais, rodeada da desajustada família Walsh, ela percebe que precisa tomar atitudes drásticas.

Triste, decepcionada e decidida a se recuperar, Maggie vai para Los Angeles passar uma temporada com sua amiga de infância, a roteirista Emily O´Keefe. Só que, chegando na cidade, nada é o que parece. O universo americano do cinema é uma indústria cruel, que castiga os que tentam viver dela. Emily está falida, cheia de amigos do cinema B, um pouco descontrolada e precisando desesperadamente da amizade e do apoio de Maggie. As duas acabam sendo a tábua de salvação uma da outra. Essa parte da história tem personagens e situações muito engraçadas. Atores frustrados, salões de beleza caríssimos, culto exagerado à vaidade, enfim, tudo combinando com o nonsense da vida de cinema. A temporada em Los Angeles revela-se uma loucura. Maggie decide libertar a devassa-rebelde que, acredita, sempre viveu dentro dela, e toma decisões inimagináveis nos tempos antigos. Tudo para ela entender o que é óbvio para nós leitores desde o começo do livro.

À margem das férias muito loucas, mesclam-se os capítulos da vida antiga de Maggie, seu casamento e seus medos constantes. Conhecemos Garv, o marido de todas as horas, doido para ser pai, e compreendemos como Maggie se sente dentro de um casamento sem filhos, marcado por abortos naturais. Apesar da narrativa mais dramática, a vida antiga de Maggie também tem episódios engraçados, como Cenourinha e Pulinho, os defeitos de Garv, e o caracol que mostra o verdadeiro amor.

Destaque ainda para a família Walsh, sem a presença de Claire e de Rachel, mas com as presenças coadjuvantes imperdíveis de mamãe e papai Walsh, Anna e Helen. Todos animados para conhecer Los Angeles de ponta a ponta, e enlouquecer os pontos turísticos.

Gostei muito do livro. Consegui vivenciar as emoções de Maggie, identificando-me com ela de certa forma. Foi um dos livros da Marian que mais me fez rir, e me fez chorar também. Uma ótima leitura, divertida e sem compromisso, desfrutando somente do prazer de ler.

Degustação:

"Na mesma hora, eu me lembrei de uma conversa que havia tido com minhas irmãs no Natal anterior. Estávamos aprisionadas destro de casa sem nem ao menos um filme do Harrison Ford para distrair nossa mente, e nos vimos especulando sobre o que cada uma de nós seria se fossêmos alimentos em vez de pessoas. Ficou decidido que Claire seria uma tigela de molho ao curry, porque ambos eram picantes e difíceis de engolir, e então Helen decretou que Rachel seria uma boneca feita de jujaba, o que a deixou toda feliz.
- Você diz isso porque eu sou doce? - perguntou ela.
- Não, é porque eu tenho vontade de arrancar sua cabeça à dentadas.
Anna - "Essa é fácil demais", comentou Helen - seria um floco de milho. E eu era "iogurte natural à temperatura ambiente"."

"Todos já ouvimos dizer que os californianos são maravilhosos. Que através de uma combinação de bom padrão de vida, preocupação com a saúde, sol o tempo todo, cirurgia plástica e desordens alimentares, eles são todos magros, musculosos e reluzentes. Ao estender a minha toalha de praia sobre a areia, olhei disfarçadamente para as outras pessoas que estavam na praia. Não havia muita gente - possivelmente por ser dia de semana - mas as que estavam ali já eram em número suficiente para eu confirmar meus maiores temores. Eu era a pessoa mais gorda e flácida naquele pedaço de areia. Possivelmente de todo o estado da Califórnia."

"Eu torcia para que a passagem do tempo cuidasse dos meus medos e eu conseguisse superá-los. Sendo assim, disse a mim mesma que teria um filho quando completasse trinta anos. Em parte, suspeitava que os trinta anos estavam tão distantes que nunca iriam chegar."

"Muitas vezes eu dissera a mim mesma que foi uma pena eu me casar tão cedo, aos vinte e quatro anos, porque isso me privara da experiência de transar sem culpa com um monte de homens misteriosos. Sentia, bem no fundo, que se eu tivesse a chance de exercitar o meu lado selvagem, seia capaz de deixar no chinelo todas as malucas das minhas amigas."

Nenhum comentário: