UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 11 de outubro de 2009

LIVRO: La Bodega


Category: Books
Genre: Literature & Fiction
Author: Noah Gordon

O livro conta a trajetória dos fracassos e dos sucessos de Josep, camponês e vinicultor que, instado pela mais ferrenha perseverança, dispõem-se em um árduo trabalho para tornar próspera a vinícola (quase falida) da família.

Gordon, segundo suas próprias palavras, expressa nessa obra o seu amor pela Espanha. Isso fica evidente por seu acurado trabalho. È indiscutível. Noah Gordon é um mestre na narrativa histórica. Para além disso, o autor é exímio na forma de narrar histórias comoventes. Em seus livros, existem sempre aquelas passagens que, de tão reconhecidamente humanas, deixam o leitor com um nó na garganta.

A história é contada com palavras simples e vitais com o propósito de entreter e, ao mesmo tempo, fazer com que tomemos por nossos os sentimentos do protagonista. A medida em que me deixava absorver pela descrição do belíssimo cenário da aldeia de Santa Eulália, onde residia Josep, me sentia transportada para um universo totalmente desconhecido para mim: a cultura de vinhos.

Nada sei sobre o assunto uma vez que nasci abstêmia (Se é que essa seja uma justificativa válida). Impossível, porém, não perceber que o tratamento dado aos personagens e à trama assemelha-se ao processo de produção de vinho. A vida é vindima. È colheita. É conquista. Os homens são como vinho: quanto mais maduro, melhor é a sua essência.

E ainda encontrei outra comparação vinhácea, tal como, amar é como vinho, quando consumido leva à embriaguez dos sentidos. Tal qual a observância do tempo para colher bons frutos, a relação entre Josep e Marimar segue uma determinação temporal para manter a saúde orgânica do amor. Então, não espere paixões intempestivas. Da parte deles, o que se vê é nascer um amor prudente.

A metáfora do vinho permanece presente em toda a trama e, para mim, é onde está a genialidade da escrita de Gordon.

Se tivesse que recorrer a uma expressão para definir La Bodega, eu escolheria: superação pessoal. A determinação de Josep em prosseguir acertando mesmo diante da falta de crédito dos que lhe cercavam é admirável.

Mérito do autor que, dispensando o didatismo e os moralismos inautênticos, transforma o relato da vida de Josep em uma lição exemplar.

Por detrás do panorama histórico da Espanha do século XIX, tem-se uma bela história de amor e uma boa dose de intriga.

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