UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Canção da tarde no campo


Caminho do campo verde estrada depois de estrada.
Cercas de flores, palmeiras, serra azul, água calada.
Eu ando sozinha no meio do vale.
Mas a tarde é minha.
Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida: tão vazia mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!
Eu ando sozinha por cima de pedras.
Mas a flor é minha.
Os meus passos no caminho são como os passos da lua;
vou chegando, vai fugindo, minha alma é a sombra da tua.
Eu ando sozinha por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.
De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto, meu peito é puro deserto.
Subo monte, desço monte.
Eu ando sozinha ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.

(Autora: Cecília Meirelles)

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