UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Poema às Bruxas!


Relâmpagos ousavam invadir o templo
e queimar o rosto das estátuas cegas.
Uivos pavorosos animavam a treva
e a monstruosa boca devorava os raios.
Eu cheguei a ver, diante ao santuário
sombras das serpentes e leões alados.
Pálidos senhores eram ali flagrados
nas propícias noites plenas de mistérios.
Quantas galerias... Eu imaginava
todo o labirinto em rigoroso inverno.
Uma era a porta colossal do inferno.
Outras se abriam em paisagens mágicas.
Bruxos se perdiam nessas sendas. Iam
em busca de verbenas e de ervas raras.
Velhos da aldeia recolhiam versos
que os gnomos bêbados de luz, cantavam.
Entre picaretas, cordas e machados,
bússolas modernas, capacetes claros,
vi os majestosos homens da ciência,
um dia, perfilarem ante a porta imensa.
Tochas transformaram o fabuloso mito
numa gruta imunda, cheia de aranha e xisto.

(Autor Desconhecido)

Nenhum comentário: