UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Não me prendo a nada que me defina



Não me prendo a nada que me defina. 
Sou companhia, mas posso ser solidão. 
Tranquilidade e inconstância, pedra e coração. 
Sou abraços, sorrisos, ânimo, 
bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. 
Música alta e silêncio. 
Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. 
Não me limito, não sou cruel comigo! 
Serei sempre apego pelo que vale a pena 
e desapego pelo que não quer valer...
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência 
e sim de sentir, de entrar em contato.
Ou toca, ou não toca. 
(Autora: Clarice Lispector)

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