UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Afinidade



AFINIDADE não é o mais brilhante,
mas é o mais sutil, delicado e
penetrante dos sentimentos.
Não importa o tempo, a ausência,
os adiantamentos, a distância,
as impossibilidades.
Quando há AFINIDADE, qualquer reencontro
retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto,
no exato ponto de onde
foi interrompido.
AFINIDADE é não haver tempo mediante a vida.
É a vitória do adivinhado sobre o real,
do permanente sobre o passageiro,
do básico sobre o superficial.
Ter AFINIDADE é muito raro,
mas quando ela existe, não precisa
de códigos verbais para se manifestar.
Ela existia antes do
conhecimento, erradia durante e permanece
depois que as pessoas deixam de estar juntas.
AFINIDADE é ficar longe,
pensando parecido a respeito dos mesmos
fatos que impressionam, comovem, sensibilizam.
É receber o que vem de dentro com
uma aceitação anterior ao entendimento.
É olhar e perceber.
AFINIDADE é um sentimento singular,
discreto e independente.
Pode existir a quilômetros de distância,
mas é adivinhado na maneira de falar,
de escrever, de andar, de respirar.
AFINIDADE é retomar a relação no momento
em que parou.
Porque o tempo e a separação nunca existiram.
Foi apenas a oportunidade dada
pelo tempo para que a maturação pudesse
ocorrer e que cada pessoa pudesse ser
cada vez mais...
(Autor Desconhecido)

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