UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Maio - Mês de Maria


As referências dos Evangelhos e do Atos dos Apóstolos a Maria, 
Mãe de Jesus, apesar de poucas, deixam ver muito
desta privilegiada criatura, escolhida para tão alta missão. 
São Paulo, na Carta aos Gálatas (4,4), 
dá a entender claramente que, no pensamento 
divino de nos enviar o Seu Filho, quando os tempos
estivessem maduros, uma Mulher era predestinada 
a no-Lo dar. Para que se compreenda a presença da Virgem Maria 
nesta predestinação divina, a Igreja, na festa de 8 de dezembro, 
aplica à Mãe de Deus aquilo que o livro dos Provérbios (8, 22) 
diz da sabedoria eterna:  
"Os abismos não existiam e eu já tinha sido concebida. 
Nem fontes das águas haviam brotado nem as
montanhas se tinham solidificado e eu já fora gerada. 
Quando se firmavam os céus e se traçava a 
abóboda por sobre os abismos, lá eu estava junto
dele e era seu encanto todos os dias"
Era, pois, a predestinada nos planos divinos.
Para se perceber melhor o perfil materno de Nossa Senhora, 
três passagens bíblicas podem esclarecer isso. 
A primeira é a das Bodas de Caná,
que realça a intercessora. Quando percebeu – o olhar 
feminino que tudo vê e tudo observa – 
estar faltando vinho, sussurra no ouvido do 
Filho sua preocupação e obtém, quase sem pedir, 
apenas sugerindo, o milagre da transformação 
da água em generoso vinho. 
Ela é, de fato, a mãe que se interessa 
pelos filhos de Deus que são seus filhos.
Outra passagem do Evangelho esclarecedora 
da personalidade de Maria é a que nos mostra 
seu silêncio e sua humildade. 
O anjo a encontra na quietude de sua casa, 
rezando, para dizer-lhe que fora escolhida por 
Deus para dar ao mundo o Emanuel, o Salvador. 
Ela se assusta com a mensagem celeste, 
porque, na sua humildade, nunca poderia 
ter pensado em ser escolhida do Altíssimo. 
Acolhe assim, por vontade divina, 
a palavra do mensageiro, silenciosamente, 
sem dizer, nem sequer ao noivo, 
José, o que nela se realizava. 
Deus tem o direito de escolher 
e por isso ela diz apenas o generoso 
“sim” que a tornou Mãe de Deus.
O terceiro traço de Maria-Mãe é sua corajosa
atitude diante do sofrimento. Ao apresentar 
o seu Jesus no templo, ouve a assustadora 
profecia do velho Simeão: “Uma espada de 
dor transpassará a tua alma”. Pouco mais tarde, 
estreitando ao peito o Menino Jesus, 
deve fugir para o Egito com o esposo, 
para que a crueldade de Herodes não atingisse a Criança que – 
pensava ele, Herodes – lhe poderia roubar o trono.
Quando seu Filho tem doze anos, 
desencontra-se dele e, ao achá-Lo após 
três dias, queixa-se amorosamente: 
Por que fizeste isto? 
Eu e teu pai te procurávamos, aflitos”. 
Sua coragem se confirma na Paixão 
e Crucifixão de Jesus. De pé, ali no Calvário, 
sofre e associa-se ao sacrifício do Redentor. 
É a mulher forte, a mãe corajosa e firme, 
a quem a dor não derruba. 
De fato, a espada de Simeão lhe atravessara 
a alma e o coração. É a Senhora das Dores.
Maio, mês dedicado a Nossa Senhora, 
pela piedade cristã, é um convite para voltarmos 
nosso olhar a esta Mãe querida para pedir-lhe 
que abra as mãos maternas em bênção de 
carinho sobre nossos passos nesta difícil 
escalada da Jerusalém celeste.

(Autor: Dom Benedicto de Ulhoa Vieira)

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