UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 31 de maio de 2011

31 de Maio - Coroação de Nossa Senhora


“Então abriu-se o Templo de Deus no céu, a Arca da Aliança apareceu no Seu Templo (...). Depois, apareceu um grande sinal no céu: uma mulher revestida de Sol, tendo a Lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça”
(Apoc. 11, 19-12, 1)

Esta visão do Apocalipse é considerada, num certo sentido, como a última palavra da mariologia. Contudo, a Assunção que aqui é expressa de modo magnífico possui contemporaneamente um seu sentido eclesiológico. Contempla Maria não só como Rainha de toda a criação, mas como Mãe da Igreja. E como Mãe da Igreja, Maria elevada e coroada no céu, não deixa de ser “envolvida” na história da Igreja, que é a história da luta entre o bem e o mal.

São João escreve: “Apareceu então outro sinal no céu: um grande dragão vermelho” (Apoc. 12, 3). Este dragão é conhecido pela Sagrada Escritura como inimigo da Mulher, desde os primeiros capítulos do livro do Gênesis (cf. Gn. 3, 14).

No Apocalipse, o mesmo dragão coloca-se diante da Mulher que está para dar à luz, preparando-se para lhe devorar o filho apenas ele nascesse (cf. Apoc. 12, 4). O pensamento dirige-se de modo espontâneo para a noite de Belém e para a ameaça que o édito perverso de Herodes representava para a vida de Jesus recém-nascido, o qual mandava “matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo” (Mt. 2, 16).

De tudo quanto o Concílio Vaticano Il escreveu, emerge de modo singular a imagem da Mãe de Deus, profundamente inserida no mistério de Cristo e da Igreja. Maria, Mãe do Filho de Deus, é ao mesmo tempo Mãe de todos os homens, que no Filho se tornaram filhos adotivos do Pai celeste. Manifesta-se precisamente aqui a incessante luta da Igreja. Como uma mãe, à semelhança de Maria, a Igreja gera filhos para a vida divina, e os seus filhos, filhos e filhas no Filho unigênito de Deus, são constantemente ameaçados pelo ódio do “dragão vermelho”: satanás.

O autor do Apocalipse, enquanto mostra o realismo desta luta que continua na história, também põe em relevo a perspectiva da vitória definitiva por obra da mulher, de Maria que é a nossa Advogada, poderosa aliada de todas as nações da terra.
O autor do Apocalipse fala desta vitória:
“E ouvi uma voz chamar no céu:  
´agora chegou a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus
e o poder do Seu Cristo´ ” (12, 10).
A solenidade da Assunção apresenta-nos o reinar do nosso Deus e o poder de Cristo sobre toda a criação. Juntos louvemos a Mãe de Cristo e da Igreja, unidos a quantos a venerarem em todas as partes da terra. Quanto desejaria que em toda a parte e em cada língua se exprimisse a alegria pela assunção de Maria! Como desejaria que deste mistério brotasse uma luz vivíssima sobre a Igreja e sobre a humanidade! Cada homem e cada mulher tome consciência de ser chamado, de modos diversos, a participar na glória celeste da sua verdadeira Mãe e Rainha. Todo homem e toda a mulher são chamados a ser participantes da glória, como diz Santo Ireneu: “Glória Dei vivens homo, vita autem hominis visio Dei”. São palavras que contém em si a nossa vocação pessoal no mundo e na Igreja.

Louvado seja Jesus Cristo!


(Fonte: A Virgem Maria - Catequese do Papa João Paulo II)

Nenhum comentário: