UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Passa uma Borboleta

Passa uma borboleta
Por diante de mim
E pela primeira vez
No Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor
Nem movimento,
Assim como as flores
Não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor
Nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta
O movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume
No perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.
(Autor: Fernando Pessoa)

Nenhum comentário: