UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Intenso Brilho



É impossível no mundo
estarmos juntos
ainda que do meu lado adormecesses.
O véu que protege a vida
nos separa.
O véu que protege a vida
nos protege. 
aproveita, pois,
que é tudo branco agora, 
à boca do precipício, 
neste vértice 
e fala
nesta clareira aberta pela insônia 
quero ouvir tua alma 
a que mora na garganta
  como em túmulos 
esperando a hora da ressurreição,
  fala meu nome 
antes que eu retorne
  ao dia pleno,
  à semi-escuridão  

(Autora: Adélia Prado)

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