UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 30 de abril de 2011

LIVRO: A Casa de Isabel


Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:Clara Mello

Sinopse: Uma notícia inesperada faz com que Isabel e Teo, amigos de infância, passem o Carnaval na casa onde cresceram, revisitando cômodos, lembranças e sentimentos. “[...] Entende que esta casa é mágica? Aqui podemos ter a idade, a lembrança, o dia que quisermos. Está tudo aqui. Nossa vida, Teo! Protegida nesta casa.”

*******

Na foto da autora constante na orelha do livro está uma moça sorridente, de aparelho nos dentes e meiguice no olhar. Clara Mello escreveu A Casa de Isabel com apenas 16 anos, mas nada da escrita desse livro remete a uma autora tão jovem. O texto é profundo, carregado de sentimentos e mais lembra palavras de alguém já muito experiente. Vivido mesmo! O dom de Clara é incrível!

[...] - Uma árvore? Deve ser chato ser uma árvore, Teo! Eu queria ser uma borboleta. Ela está sempre deixando tudo mais bonito. Antes é uma lagarta e depois que vira uma borboleta, com toda a graciosidade, morre em vinte e quatro horas. Mais vale um só dia intenso que uma longa vida mansa. [...]

Teo e Isabel são os personagens centrais da história. Já não são tão jovens, mas em pleno carnaval um acontecimento leva os amigos de infância de volta à antiga casa dela. Lá eles viveram seus melhores anos e agora Isabel quer rememorar aquele tempo.

Teo não é sociável, não tem amigos, nem trabalho e gosta mesmo é de pintar... os outros.

“Não retrato nada de mim, pois sou apenas essa casca oca sem nenhuma emoção maior.”

Já Isabel é cheia de vida.

“[...] aquela alegria, aquela segurança inabalável, aquele jeito de Isabel de sempre tocar a vida para a frente, não importando o que acontecesse. [...]”

A história toda é contada por Teo e muitas partes trazem emoção ao leitor. Eu me senti assim, maravilhada com toda a trama. Teo e Isabel ficam na casa para rememorar, mas também para descobrir, para se descobrirem. Em todas as palavras trocadas e olhares cúmplices está a promessa do romance, do amor.

[...] – Algumas coisas lançam a semente do amor dentro de nós. Como convivência, admiração. E outras coisas cultivam esas sementes, como carinho, companheirismo. Então logo sentimos brotar aquela flor, que cresce e fica mais viçosa e bonita. Mas é preciso cultivá-la, ela precisa de cuidados e de atenção, como todas as flores. Senão murcha e vira uma rosa seca dentro do coração. [...]

Nenhum comentário: