UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 30 de abril de 2011

LIVRO: O Macaco de Pedra


Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:Jeffery Deaver

Sinopse: O pano de fundo da história é a imigração ilegal de dissidentes políticos chineses. A missão de despejar a "carga ilegal", a bordo de um navio, em solo americano fica a cargo do Fantasma. Pela alcunha simpática já se sabe: Olha o vilão aí, gente! No entanto, antes que isso aconteça, o fantasma, também conhecido como cabeça de cobra ou contrabandista de imigrantes, se encarrega de explodir o navio com todo mundo dentro. Alguns desses imigrantes escapam com vida. Sorte ou azar uma vez que, agora, a missão do Fantasma é a de matar um a um aqueles a quem chama de porquinhos?

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No decorrer da trama Lincoln Rhyme e Cia que, em uma corrida contra o tempo, devem pegar o Fantasma antes que ele elimine as famílias sobreviventes. E se o suspense é de caráter psicológico e com detalhes técnicos da ciência forense, é Rhyme que arregaça as mangas. Não tem para mais ninguém. A limitação física existe, mas a mente irrestrita do cara nos dá a impressão de que se é possível combater um criminoso a distância. Lógico que ele tem uma equipe boa, e Amelia Sachs (Claro, sempre ela!), sua parceira e amante, é MESMO a sua extensão, seus braços, suas pernas, sua força. É ela quem vai a campo cuidar dos detalhes que Rhyme é incapaz de fazer.

É visível a insatisfação de Rhyme por não poder a ver cena do crime in loco e colher suas evidências. Para um policial investigativo aos moldes de Rhyme, deve ser mesmo difícil a abstinência de adrenalina. No caso de nosso cientista criminal, há que se depender de relatórios e mais relatórios para montar um quebra-cabeça complexo. (Para mim isso é tão instigante quanto... ou mais, porque a genialidade sempre está na descoberta daquilo que ninguém foi capaz de ver. Porém, entendo o que Rhyme deve sentir atuando nos bastidores. A glória do palco faz um bem danado).

No caso de Rhyme, não estar é como se estivesse haja vista que a comunicação entre Amelia e Rhyme ocorre numa esfera fora do normal. Quando Amelia adentra a cena do crime e ambos se comunicam, é como se ele se transportasse até lá de quão forte é a sua presença, tamanha é a sinergia existente entre os dois. Mas Rhyme não joga dados, pois sabe que a utopia não dorme. Emoções, fora! Daí o seu caráter rigoroso, e a sua intolerância aos achismos; “Não ache, tenha certeza” poderia ser o lema da vida de Rhyme.

A trama tem muitos pontos altos. Destaco a parceria entre Rhyme e Sachs. Sem soar repetitiva, quero agora fazer uma análise das escolhas do autor que, habilmente, vai retirando as camadas dos personagens aos poucos, a cada livro da série, um bocadinho de seus vieses psicológicos, mentais e emocionais. Ele não nos conta tudo num livro só, portanto, sabemos que a relação de Rhyme e Amelia tende a crescer nos próximos livros da série. Séries têm disso, se tudo é contado e desvendado logo no início, sem nenhuma empolgação e fôlego para o restante da saga. Só de acompanhá-los em diálogos em que um sabe de antemão o que o outro irá dizer, pensar e fazer, nos dá pista de quão longe foi sua relação. Estão mais que envolvidos.

Dessa vez, vemos uma Amelia mais sensível ao seu relógio biológico, mais vulnerável ao ponto de correr o risco de deixar sua retaguarda descoberta. Também preocupada com uma possível cirurgia que Rhyme quer porque quer fazer. Por outro lado, Rhyme quer ser um homem completo no que tange a satisfazê-la e também pela frustração profissional , por isso, o seu afã em arriscar-se ser submetido a um procedimento cirúrgico em que a única certeza é o risco de morte.

Agora, pegando a deixa, vou falar de um personagem sensacional nessa história... não, não é Thom! Estou falando de Sony Li. É interessante perceber que o personagem se desenvolve aos olhos do leitor à medida que cresce aos olhos de Rhyme. O que foi aquela conversa particular entre os dois? Estou falando especificamente dos conselhos que Sony Li não se furtou a dar a Rhyme com tanto humildade. Não olhou Rhyme como alguém digno de pena, antes disse “Talvez querer andar seja pedir muito”. Dizer isso para Lyncoln Rhyme? Você não está entendendo. E ver Rhyme desnundando a sua alma, contando coisas do seu íntimo nunca dantes reveladas? Mas, a amizade entre esses dois foi inesperada e bonita de se ver. Não é à toa que terminam (ou continuam?) a conversa jogando uma partida de Wei-chi, um jogo antigo e aparentemente simples que significa a arte da harmonia.

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