UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Apesar de Tudo Continuamos Amando!


Apesar de tudo, continuamos amando,
e este "apesar de tudo" cobre o infinito.
Esta frase do filósofo Cioran expressa a extensão
dos nossos obstáculos amorosos.
Apesar de termos acreditado na eternidade dos nossos sentimentos
e depois descobrirmos que nada mantém-se estável por muito tempo,
continuamos amando.
Apesar de termos sofrido noites inteiras por amores que não se
concretizaram ou que foram vagos ou pueris,
continuamos amando. 

Apesar de termos sido rejeitados, apesar de o nosso amor
não ter sido suficiente para encantar o outro e fazê-lo permanecer ao nosso lado,
continuamos amando.

Apesar de todos os livros escritos, todas as sentenças filosóficas,
todas as análises terapêuticas e todos os exemplos de paixões falidas,
continuamos amando. 

Apesar de não termos mais 15 anos e estarmos numa idade
em que os outros acreditam que o nosso coração envelheceu,
continuamos amando.
Apesar de a pessoa que a gente ama sentir por nós um amor de amigo,
um amor fraterno, um amor camarada que nada faz lembrar
o amor ardente que a gente deseja e sonha,
continuamos amando. 

Apesar de a gente saber que o amor acaba,
que o amor talvez nem seja pelo outro,
mas apenas uma projeção do amor que a gente tem por nós mesmos,
continuamos amando.
Apesar da falta de grana, das desilusões com a política,
do cansaço no final do dia, dos projetos que não foram adiante,
do tempo que nos falta e do medo que nos sobra,
continuamos amando. 

Apesar da chuva que não permite o passeio de mãos dadas,
do espaço compartilhado que não permite privacidade,
da desaprovação dos que nada têm a ver com o assunto,
continuamos amando.
Infinitamente,
apesar de tudo e todos e apesar de nós mesmos,
continuamos amando ...

(Autor: Martha Medeiros)

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