UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Dentro da Noite



   Dentro da noite a vida canta
 E esgarça névoas ao luar...
 Fosco minguante o vale encanta.
Morreu pecando alguma santa...    
   A água não pára de chorar.  
Há um amavio esparso no ar...
Donde virá ternura tanta?...
 Paira um sossego singular.
   
  Dentro da noite...   
 Sinto no meu violão vibrar
A alma penada de uma infanta
Que definhou do mal de amar...
Ouve... Dir-se-ia uma garganta
Súplice, triste, a soluçar  
     Dentro da noite...

(Autor: Manuel Bandeira)

Nenhum comentário: