UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 4 de julho de 2010

Poema a Ti

Quero te amar
Com a ternura mansa da esperança adolescente.
Com a simplicidade das flores
Que nascem e morrem
Sem nunca serem vistas.
Com o mesmo ímpeto imprevisível
Dos pássaros que tombam
Após descreverem no espaço o círculo da morte.
Com a fúria da sede ardente do solo
Ao receber as primeiras gotas das chuvas de verão.
Com a fartura dos ventos
Que transportam pelas madrugadas
O dulcíssimo odor das raízes e resinas.
Quero te amar
Com a inquietação cantante dos rios
Acariciando levemente a fímbria das margens.
Com a alegria surda e pura das nascentes
Abrindo caminho para o sol
Entre húmus e gravetos.
Quero te amar
Com o mesmo orgulho da árvore
Ostentando o primeiro fruto.
Com todo o êxtase e vertigem
Da alma caída de amor
Com a tenebrosa força do estático silêncio
Dos grandes momentos
Que precedem os acontecimentos definitivos.
Quero te amar e te amarei
Com a mesma grandiosidade espetacular da vida
E a mesma intensidade atraente
Dos abismos da morte.

(Autor Desconhecido)

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