UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Musa do Espelho

Procuro-te em tudo:
no espaço, no tempo.
O espelho é fantástico.
No cristal partido
há rostos inúmeros.
São múltiplos, tantos.
Nenhum te conhece.
Uns calam, são tímidos.
São mortos, são vivos?
Ou apenas fragmentos
de doces espectros
que emergem, de súbito,
de um país perdido?
Navego no tempo,
procuro-te em tudo.
Perdida, mas rútila,
no espelho fantástico,
olhai! - há uma estrela.

(Autor: Emílio Moura)

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