UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 31 de julho de 2010

A Perda

Perder alguém é como tirar o quadro de uma moldura que continua pendurada na parede.
É como ver uma janela que já não abre mas por onde nos debruçámos tantas vezes.
É como uma peça que falta no puzzle do nosso ser, do nosso crescimento.

Perder alguém é um abanar da nossa estrutura, é abrir rachas.
É como um apagar de luzes num caminho aberto ao céu.
É como um sentimento que já não se sente.
É uma irracionalidade, uma loucura, uma estupefacção, uma derrota, uma decepção.

Perder alguém é uma pergunta a Deus, mesmo quando n´Ele não se acredita.
É como uma vitória das trevas, uma derrota do Bem.
Uma baixa na batalha da vida, que se baptiza de estúpida e porca.
Uma dúvida sobre a sobrevivência.

Perder alguém é uma lágrima, um choro, um oceano de dor e de grito.
É como um mar calmo onde se precisa de vento.
É o lembrar da nossa vida, do que fizemos e fazemos.
Dos que amamos e rejeitamos. Até dos que ignoramos.

Perder alguém é perdermos um pouco de nós.
É aprender do modo mais duro.
É escolher entre o lamento e o crescer.
É ver em cada momento pedaços onde vive esse alguém.
É ouvir um sussurro que nos diz: Vive!

(Autor Desconhecido)

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