UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 31 de julho de 2010

Amor e Ódio


Por que eu me esforço tanto e não consigo
Por tua lembrança lá no esquecimento?
Mudo meu rumo, mas teus passos sigo,
P'ra o meu espanto e este desalento.

Por odiar-te tanto eu não te esqueço.
Por que tu sangras tanto no meu peito?
Voltar a mim é tudo que eu mereço,
Porém sem nós eu mesma me rejeito.

Quero-te morto, pois talvez - quem sabe -
Eu possa dar-te, enfim, por terminado,
Possa enterrar também minha saudade

De ti, o que foi-me mais um triste fado,
Porém, enquanto houver eternidade,
Serás no eterno o meu eterno amado.

(Autora: Silvia Schmidt)

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