UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

domingo, 25 de julho de 2010

Elegância

Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que,
talvez por isso, esteja cada vez mais rara:
a elegância do comportamento.
É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres
e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até à hora de dormir
e que se manifesta nas situações mais prosaicas,
quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.
É uma elegância desobrigada.

É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam.
Nas pessoas que escutam mais do que falam.
E quando falam, passam longe da fofoca,
das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas
que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas.

Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores
porque não sentem prazer em humilhar os outros.

É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece,
é quem presenteia fora das datas festivas,
é quem cumpre o que promete e,
ao receber uma ligação,
não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando
e só depois manda dizer se está ou não está.

Oferecer flores é sempre elegante.

É elegante não ficar espaçoso demais.
É elegante você fazer algo por alguém,
e este alguém jamais saber
o que você teve que se arrebentar para o fazer...

É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro.

É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.

É elegante retribuir carinho e solidariedade.

É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...

Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.
Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo,
a estar nele de uma forma não arrogante.

É elegante a gentileza... atitudes gentis falam mais que mil imagens...

Abrir a porta para alguém... é muito elegante.

Dar o lugar para alguém sentar... é muito elegante.

Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma...

Oferecer ajuda... é muito elegante.

Olhar nos olhos ao conversar, é essencialmente elegante.
Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação,
mas tentar imitá-la é improdutivo.
A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver
que independe de status social:
é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu,
que acha que "com amigo não tem que ter estas frescuras".

Se os amigos não merecem uma certa cordialidade,
os inimigos é que não irão desfrutá-la.

Educação enferruja por falta de uso.
E, detalhe: não é frescura.

(Autor: Toulouse Lautrec)

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