UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 15 de julho de 2010

À Noite

Declamarei às estrelas
Meu coração em pedaços,
E esperarei que o espaço
Reorganize as parcelas,
E assim, corrija meus traços
Em composições mais belas
E mais precisas que aquelas
Rimas tão tortas que eu faço:
Quem sabe em outro planeta,
Ou na cauda de um cometa,
Meu verso soe mais certo...
(Por isso, aos astros me exponho,
E ao céu escuro eu oferto
Meus fragmentos de sonho.)

(Autor: Ederson Peka)

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