UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 31 de julho de 2010

O Rio e o Oceano

Diz-se que,
mesmo antes de um rio cair no oceano
ele treme de medo.

Olha para trás, para a jornada,
os cumes, as montanhas,
o longo caminho sinuoso através das florestas,
através dos povoados,
e vê à sua sua frente um oceano tão vasto
que entrar nele nada mais é
do que desaparecer para sempre.

Mas não há outra maneira.
O rio não pode voltar,
ninguém pode voltar,
voltar é impossível na existência.

Você pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar
e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano
é que o medo desaparece.

Porque apenas então o rio saberá
que se trata de desaparecer no oceano.
Mas torna-se oceano.
Por um lado é desaparecimento,
mas por outro é nascimento.

Assim somos nós,
voltar é impossivel na exietência.
Você pode ir em frente e se arriscar.
Coragem, torna-se oceano.

(Fonte: História de Amor)

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