UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

terça-feira, 27 de julho de 2010

26 de Julho - Morte de João Pessoa


Morte de João Pessoa completa 80 anos

Um dos episódios mais marcantes da história paraibana é lembrado nesta segunda-feira, 26. Há exatos 80 anos morria ex-governador da Paraíba (à época chamado de presidente) que hoje dá nome à capital.

Confeitaria A Glória, número 318 da Rua da Glória, esquina com a Rua de Santo Amaro (hoje Rua da Palma), centro do Recife. No final da tarde de sábado, no ambiente disputado por famílias da alta sociedade, um homem entra apressado, portando um revólver oxidado e de cano curto.

Aproxima-se de uma mesa e faz uma pergunta: "João Pessoa?". Não espera resposta, porque já tem a sua: "Meu nome é João Dantas, a quem tanto humilhaste". Às 17h12 do dia 26 de julho de 1930, dois disparos atingem o presidente da Paraíba, que ainda é alvejado mais uma vez antes de tombar. Vinte minutos depois, João Pessoa saía da vida para entrar na história, tornando-se nome de capital e sendo usado como argumento para a tomada do poder pelos derrotados das eleições presidenciais daquele ano.

A morte do 'ex-presidente' foi o estopim para uma mobilização armada que mudou a estrutura da política nacional, gerando o que foi chamado de Revolução de 30.

Também em homenagem à data, nós relembramos agora um pouco da história da Paraíba para que você conheça e compreenda melhor porque a nossa Capital se chama hoje João Pessoa, já tendo se chamado Filipéia de Nossa Senhora das Neves (hoje padroeira da cidade), Frederica (durante a ocupação holandesa) e Parahyba.


Anayde e João Dantas

O principal motivo que teria levado o advogado João Dantas a assassinar João Pessoa seria a publicação pelo jornal A União (jornal oficial do Estado) de correspondências e escritos (como poemas) trocados entre o advogado e a sua amante, a professora e poetisa Anayde Beiríz, além da exposição de fotografias íntimas do casal na delegacia de polícia, que escandalizaram a sociedade moralista da época. Tanto as cartas e escritos quanto as fotografias foram confiscados pela polícia no escritório de João Dantas, na rua Duque de Caxias.

Desesperado com o ocorrido, ele foi até a cidade de Recife onde assassinou com arma de fogo o então governador do estado, que seria o candidato a vice-presidente da República na chapa de Getúlio Vargas. Depois do crime, João Dantas foi preso e encontrado morto na cadeia. Não se sabendo com certeza se ele se suicidou ou se foi morto. João Dantas nunca declarou oficialmente os motivos que levaram-no a assassinar João Pessoa. Contudo, na época havia uma grande rixa político-partidária, que dividia a Paraíba entre os que apoiavam o governador e o oposicionistas, dos quais João Dantas fazia parte.

Com a prisão de João Dantas, Anayde Beiriz refugiou-se na casa de auxílio Bom Pastor, no Recife, onde também faleceu sobre circunstâncias poucos esclarecidas até hoje. Acredita-se que ela tenha se suicidado ingerindo veneno.


Revolução de 30

A política brasileira dos primeiros anos da República até a década de 30 do século XX caracterizou-se pela dominação das chamadas oligarquias partidárias, marcadas pelo coronelismo, voto de cabresto e pela alternância de pessoas do mesmo grupo político no poder, quase sempre oriundas dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Era a conhecida 'política do café com leite'.

A candidatura do gaúcho Getúlio Vargas, junto com o paraibano João Pessoa, representava uma tentativa de rompimento com a ordem estabelecida, o que não era aceito pela elite dominante, que apoiava a candidatura de Júlio Prestes. Em março de 1930, Júlio Prestes, apoiado pelo então presidente Woshington Luís, venceu as eleições presidenciais sob acusação de fraude levantada pela oposição comandada por Getúlio Vargas.

Com o assassinato de João Pessoa, iniciou-se um movimento armado no país contra a posse do presidente eleito, que culminou com a deposição, em 24 de outubro de 1930, do presidente Washington Luís e a subida ao poder de Getúlio Vargas. Terminava assim a República Velha brasleira e inciava-se o Estado Novo.


O Telegrama do Nego

Negou o seu apoio ao candidato oficial à presidência da República Júlio Prestes, em 29 de julho de 1929. Mais tarde compôs com Getúlio Vargas a chapa de oposição à presidência da República para as eleições de 1 de março de 1930.

"Paraíba, 29-julho-1929

Deputado Tavares Cavalcanti:

Reunido o diretório do partido, sob minha presidência política, resolveu unanimemente não apoiar a candidatura do eminente Sr. Júlio Prestes à sucessão presidencial da República. Peço comunicar essa solução ao líder da Maioria, em resposta à sua consulta sobre a atitude da Paraíba.

Queira transmitir aos demais membros da bancada essa deliberação do Partido, que conto, todos apoiarão, com a solidariedade sempre assegurada.

Saudações:

João Pessoa, Presidente do Estado da Paraíba."


O seu legado histórico desperta certa polêmica. Os defensores de João Pessoa alegam que ele foi um combatente das oligarquias locais e se contrapunha a interesses de grupos tradicionais, embora ele mesmo proviesse de família de oligarcas.

A cidade de João Pessoa é assim denominada em sua memória. Antes chamada Paraíba - mesmo nome do Estado - a capital teve o seu nome alterado, logo após o assassínio de João Pessoa, episódio considerado o estopim da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. Naquele período, foram perseguidos e mortos muitos opositores do grupo político de que Pessoa fazia parte. O momento de exceção em que se deu a homenagem, entre outras razões, justificaria, segundo alguns pessoenses, a discussão sobre uma nova alteração na denominação da cidade.


A Bandeira da Paraíba


A bandeira da Paraíba foi adotada pela Aliança Liberal em 25 de setembro de 1930, por meio da Lei nº 704, no lugar de uma antiga bandeira do estado, que vigorou durante quinze anos (de 1907 a 1922). A bandeira foi idealizada nas cores vermelha e preta, sendo que o vermelho representa a cor da Aliança Liberal e o preto, o luto que se apossou da Paraíba com a morte de João Pessoa, presidente do estado em 1929 e vice-presidente do Brasil em 1930, ao lado do presidente Getúlio Vargas.

A palavra "NEGO" que figura na bandeira é a conjugação do verbo "negar" no presente do indicativo da primeira pessoa do singular, remetendo à não aceitação, por parte de João Pessoa, do sucessor indicado pelo então presidente do Brasil, Washington Luís. Posteriormente, em 26 de julho de 1965, a bandeira rubro-negra foi oficializada pelo governador do estado, Pedro Moreno Gondim, através do Decreto nº 3919, como "Bandeira do Négo" (à época ainda com acento agudo na letra "e").

O preto ocupa um terço da bandeira; o vermelho, dois terços. Existem movimentos correntes hoje em dia que tentam mudar a bandeira do estado assim como o nome da capital, ou ao menos recuperar a nomenclatura da capital a bandeira originais, pois foram alterados na época da morte do político João Pessoa, morte esta que causou grande comoção em todo o país, levando a visíveis manobras políticas durante o primeiro governo de Getúlio Vargas.

(Fonte: paraiba.com.br)

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