UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

sábado, 28 de julho de 2012

Da Solidão


Inquieta chuva,
inquieta me dispersa,  
esquecida a tradição
e o cansado som.
Dentro e fora de mim
tudo é deserto
como se as ervas
fossem arrancadas
ou se esgotasse a dor
por que se chora. 
Na grande solidão me basta,
e a contemplo
para o sonho interior
que me resolve!
Tão fácil é esperar,
que já nem sinto
o que vem a dormir
ou a morrer
na mesma angústia
que o silêncio envolve.

(Autora: Maria Alberta Menéres)

Nenhum comentário: