UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Falso Amor



Falsifiquei o amor, 
Criando uma ilusão,
 Bonita, colorida e indolor. 
Na ausência do seu calor, 
Amor Perfeito,
Imune à traição,
 Sem causa ou efeito, 
Somente sensação. 
Falso e seguro amor, 
Livra-me da contradição,
 De sentir prazer e dor,
 No veneno da paixão.
 Vivo agora minha utopia,
 E já não mais pertenço à maioria,
 Onde quem quer não tem, 
e quem tem não quer. 
Todos reféns duma triste ironia. 

(Autor: Alberto Leal)

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