UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

(Autor: Fernando Pessoa)

  

  

 

 


 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Como hei-de


Como hei-de segurar a minha alma 
para que não toque na tua?

Como hei-de elevá-la acima de ti, 
até outras coisas?

Ah, como gostaria de levá-la até um sítio 
perdido na escuridão até um lugar estranho 
e silencioso que não se agita, quando o teu coração treme.

Pois o que nos toca, a ti e a mim, isso nos une, 
como um arco de violino que
 de duas cordas solta uma só nota.

A que instrumento estamos atados?

E que violinista nos tem em suas mãos?

Oh, doce canção.

(Autora: Rainer Maria Rilke)

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